terça-feira, 21 de julho de 2009

MOSSORÓ E A SECA DE 1877

FONTE: JORNAL O MOSSOROENSE (17/10/1872)

O ano de 1877 foi terrível para o sertão nordestino. É nesse ano que começa a calamidade da mais terrível das secas que flagelaram as províncias do nordeste no final do século XIX. No Rio Grande do Norte, quase todas as cidades do interior foram atingidas pela intempérie. As populações abandonaram os sítios a procura das cidades. E Mossoró, no oeste potiguar, se viu, de repente, invadida por milhares de retirantes que aqui chegavam em busca da salvação, vestidos de trapos sujos, algumas crianças nuas, barrigudas e magras. "A população sertaneja, apavorada, empolgada por um terror coletivo, deslocou-se em massa para o litoral seduzida pela miragem fatal dos socorros mandados distribuir pelo Governo Monárquico", como nos conta o historiador Oswaldo Lamartine. Muitos não resistiram a viagem e morreram no meio do caminho; outros, os que ainda tinham força para trabalhar, prestaram serviços ao município em troca de alimentação. Foi uma fase negra na história de Mossoró.

Mossoró e a seca de 1877

O ano de 1877 foi terrível para o sertão nordestino. É nesse ano que começa a calamidade da mais terrível das secas que flagelaram as províncias do nordeste no final do século XIX. No Rio Grande do Norte, quase todas as cidades do interior foram atingidas pela intempérie. As populações abandonaram os sítios a procura das cidades. E Mossoró, no oeste potiguar, se viu, de repente, invadida por milhares de retirantes que aqui chegavam em busca da salvação, vestidos de trapos sujos, algumas crianças nuas, barrigudas e magras. "A população sertaneja, apavorada, empolgada por um terror coletivo, deslocou-se em massa para o litoral seduzida pela miragem fatal dos socorros mandados distribuir pelo Governo Monárquico", como nos conta o historiador Oswaldo Lamartine. Muitos não resistiram a viagem e morreram no meio do caminho; outros, os que ainda tinham força para trabalhar, prestaram serviços ao município em troca de alimentação. Foi uma fase negra na história de Mossoró.

Naquele período, Mossoró vivia a fase áurea do seu desenvolvimento. A exemplo da maioria das cidades do interior nordestino, começou a formar a sua economia a partir das atividades agro-pastoris. Mas por estar situada em uma área privilegiada, entre duas capitais e sendo o ponto de transição entre o sertão e o litoral torna-se, já em 1857, uma espécie de empório comercial. Apesar de não situar-se no litoral, contava com um porto, o porto de Mossoró ou porto de Areia Branca, município esse que pertenceu a Mossoró até 1892, quando foi desmembrado. Com a chegada dos navios da Companhia Pernambucana de Navegação Costeira ao porto de Mossoró em 1857, através de uma subvenção concedida pelo governo provincial, o município se torna o centro de comercialização de uma área que atinge, além dos municípios vizinhos, uma parte do Ceará e também da Paraíba. Esse fato é, na visão dos historiadores mossoroenses, o primeiro marco na ascensão de Mossoró a empório comercial. A chegada dos navios fez com que comerciantes de outras praças, principalmente de Aracati/CE, viessem a se estabelecer aqui atraídos pelas oportunidades comerciais que a cidade passou a oferecer. E é esse atrativo que faz com que em 16 de novembro de 1868, o industrial suíço Johan Ulrich Graff se estabeleça em Mossoró com a famosa "Casa Graff", alavancando o seu desenvolvimento econômico com idéias mercantilistas, associadas ao capital aqui investido.

Mas se por um lado o crescimento do comércio atraía grandes comerciantes, por outro lado atraia também os famintos retirantes que buscavam aqui meios de sobrevivência. Em determinado período, chegou-se a registrar nada menos que 70.000 flagelados, segundo nos informa o historiador Câmara Cascudo, vindos de toda zona oeste e de Estados vizinhos, na busca de meios de sobrevivência. "Era a fase cruel da seca dos dois sete, prolongando-se até 1879 e mesmo 1880 que ainda reunia grupos famintos pelas ruas da cidade", nas palavras de Cascudo.

Nesse período, Mossoró era governada pelo caraubense Francisco Gurgel de Oliveira. Apesar das dificuldades que teve de enfrentar para socorrer as vítimas da seca, graças aos auxílios conseguidos do governo provincial e até mesmo de particulares distantes, através da Comissão de Socorros Públicos, que era presidida pelo Dr. Manoel Hemetério, conseguiu, o Coronel Gurgel executar vários serviços nas ruas, no rio e por toda a parte.

A 4 de março de 1878 a Câmara Municipal oficia ao presidente da Província: "A maior parte dessa gente não encontrando um teto que lhe sirva de abrigo passa os dias e as noites exposta às intempéries do tempo, ao sol e ao relento, donde resulta principalmente a espantosa mortalidade que atinge a 40 pessoas por dia".

Foram anos terríveis para Mossoró. A grande seca dos dois sete, como ficou conhecida, marcou profundamente a cidade. A fome, a peste, a morte, o choro de crianças famintas, o olhar desesperado dos adultos desenganados da vida, foram cenas que por muito tempo povoaram a memória dos habitantes de Mossoró.

Naquele período, Mossoró vivia a fase áurea do seu desenvolvimento. A exemplo da maioria das cidades do interior nordestino, começou a formar a sua economia a partir das atividades agro-pastoris. Mas por estar situada em uma área privilegiada, entre duas capitais e sendo o ponto de transição entre o sertão e o litoral torna-se, já em 1857, uma espécie de empório comercial. Apesar de não situar-se no litoral, contava com um porto, o porto de Mossoró ou porto de Areia Branca, município esse que pertenceu a Mossoró até 1892, quando foi desmembrado. Com a chegada dos navios da Companhia Pernambucana de Navegação Costeira ao porto de Mossoró em 1857, através de uma subvenção concedida pelo governo provincial, o município se torna o centro de comercialização de uma área que atinge, além dos municípios vizinhos, uma parte do Ceará e também da Paraíba. Esse fato é, na visão dos historiadores mossoroenses, o primeiro marco na ascensão de Mossoró a empório comercial. A chegada dos navios fez com que comerciantes de outras praças, principalmente de Aracati/CE, viessem a se estabelecer aqui atraídos pelas oportunidades comerciais que a cidade passou a oferecer. E é esse atrativo que faz com que em 16 de novembro de 1868, o industrial suíço Johan Ulrich Graff se estabeleça em Mossoró com a famosa "Casa Graff", alavancando o seu desenvolvimento econômico com idéias mercantilistas, associadas ao capital aqui investido.

Mas se por um lado o crescimento do comércio atraía grandes comerciantes, por outro lado atraia também os famintos retirantes que buscavam aqui meios de sobrevivência. Em determinado período, chegou-se a registrar nada menos que 70.000 flagelados, segundo nos informa o historiador Câmara Cascudo, vindos de toda zona oeste e de Estados vizinhos, na busca de meios de sobrevivência. "Era a fase cruel da seca dos dois sete, prolongando-se até 1879 e mesmo 1880 que ainda reunia grupos famintos pelas ruas da cidade", nas palavras de Cascudo.

Nesse período, Mossoró era governada pelo caraubense Francisco Gurgel de Oliveira. Apesar das dificuldades que teve de enfrentar para socorrer as vítimas da seca, graças aos auxílios conseguidos do governo provincial e até mesmo de particulares distantes, através da Comissão de Socorros Públicos, que era presidida pelo Dr. Manoel Hemetério, conseguiu, o Coronel Gurgel executar vários serviços nas ruas, no rio e por toda a parte.

A 4 de março de 1878 a Câmara Municipal oficia ao presidente da Província: "A maior parte dessa gente não encontrando um teto que lhe sirva de abrigo passa os dias e as noites exposta às intempéries do tempo, ao sol e ao relento, donde resulta principalmente a espantosa mortalidade que atinge a 40 pessoas por dia".

Foram anos terríveis para Mossoró. A grande seca dos dois sete, como ficou conhecida, marcou profundamente a cidade. A fome, a peste, a morte, o choro de crianças famintas, o olhar desesperado dos adultos desenganados da vida, foram cenas que por muito tempo povoaram a memória dos habitantes de Mossoró.

PRIMEIRO SARGENTO-MOR DA RIBEIRA DE MOSSORÓ

FONTE: JORNAL O MOSSOROENSE (17/10/1872)

O Sargento-Mor da Ribeira era um representante do Poder Executivo, militar e, acima de tudo, moral. Era a "autoridade executiva, policial, preventiva e repressora, decidida, valente, desinteressada e prestigiada pela propriedade, família e tradição local", nas palavras do historiador Câmara Cascudo. Cabia ao Sargento-Mor da Ribeira acalmar as partes, em caso de desavença, ouvindo-as e aconselhando-as, vigiar a costa, verificando a procedência das embarcações, chegada de estrangeiros e suspeitos, informando de tudo ao Capitão-Mor.

O primeiro Sargento-Mor da Ribeira de Mossoró foi José de Oliveira Leite, nomeado pelo Capitão-Mor da Capitania do Rio Grande, Pedro de Albuquerque Melo, no dia 4 de outubro de 1755. Para a escolha, o Capitão-Mor solicitou do Senado da Câmara três nomes. E olhando a lista tríplice, fez a sua escolha. O Capitão-Mor justificava a necessidade de ter um Sargento-Mor na Ribeira do Mossoró porque já morava na região mais de cinqüenta pessoas, sem uma autoridade presente para acalmar os ânimos dos exaltados, que por estarem bastante isolados das comunidades mais desenvolvidas que eram as de Apodi e Assu, se achavam absolutos.

José de Oliveira Leite era proprietário de terras onde possuía currais de gado, tendo relações e poder pessoal. Era filho de Tomé Leite, antigo vereador do Senado da Câmara do Natal, e de Maria da Conceição. Era casado com dona Maria d'Apresentação, filha de Antônio Vaz de Oliveira e de Bernadina Josefa de Morais, todos naturais da região.

Na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, volume IV, n.º I, de janeiro de 1906, nas páginas 85/87, foi publicado o registro da Carta-Patente de José de Oliveira Leite. Destacamos um trecho deste documento:

"Pedro de Albuquerque Melo, Capitão-Mor da Capitania do Rio Grande do Norte por Sua Majestade, que Deus guarde, etc. Faço saber aos que esta minha Carta-Patente virem que porquanto na Ribeira de Mossoró, desta minha jurisdição, se acham morando mais de cincoenta moradores, sem ter quem os governe, por não haver aí cabo nenhum que o faça, e se achem meio absolutos, por ser longe dos coronéis que há nas Ribeiras do Assu e Apodi, e ser conveniente ao serviço de Sua Majestade prover naquele lugar um cabo que os domine e castigue, quando fizerem absurdo, por viverem absolutos, e atender a que poderá haver entre eles alguma desordem contra o serviço de Sua Majestade, que Deus guarde, pedi por carta aos oficiais da Câmara desta Cidade mencionem três homens de satisfação e inteligência da disciplina militar, o que satisfizeram, nomeando em primeiro lugar a José de Oliveira Leite, por ser pessoa principal e de conhecida nobreza, afazendado morador na mesma Ribeira e de honrado procedimento, o que tudo me consta: Hei por bem de o eleger e nomear, como pela presente o faço, por Sargento-Mor daquela Ribeira, para governar e traze-la e ter em conhecimento de superior, que a governe e domine, em virtude da Real Ordem de Sua Majestade de 22 de dezembro de 1715: com o qual posto não haverá soldo algum da Real Fazenda, mas gozará de todas as honras, graças, privilégios, isenções e liberdades que em razão do dito posto lhe tocarem. Pelo que ordeno a todos os cabos das mais Ribeiras que o conheçam por Sargento-Mor regente daquela Ribeira e como tal o honrem e estimem; e da mesma sorte ordeno aos moradores dela o conheçam por seu Sargento-Mor regente e como tal o obedeçam, cumpram e guardem suas ordens de palavra e por escrito como devem e são obrigados, ..."

Com este documento estava constituída a primeira autoridade da Ribeira de Mossoró. A cidade não guardou seu nome, como também não guardou o nome de um outro Sargento-Mor, Antônio de Souza Machado, um português de Braga, grande proprietário rural, dono da Fazenda Santa Luzia, Fazenda essa que deu origem ao Arraial e depois Cidade de Santa Luzia de Mossoró.