quarta-feira, 20 de maio de 2009

INÍCIO DE MOSSORÓ

Nos primórdios da colonização, as cidades surgiam naturalmente, sem pretensões, sem pressa. Em busca de bons pastos, já que os terrenos à beira-mar estavam reservados para o plantio de cana-de-açúcar (um decreto real de 1701 conservava as dez primeiras léguas - aproximadamente 65 Km - como área exclusivamente de agricultura), os homens adentravam os sertões, tangendo o gado, fixando-se em fazendas. Com o tempo, as fazendas cresciam. Então logo se doava um pedaço de terra para a construção de uma igreja. Terra doada à padroeira. Com o tempo, começava a surgir casas ao redor da igreja. Surgiam os povoados, as vilas, as cidades. A fazenda de gado foi responsável pela fixação da população no interior nordestino. O relevo e a vegetação pouco densa das caatingas permitiam a fixação do gado sem qualquer trabalho preliminar de desbastamento do solo. Os afloramentos salinos, comuns no interior nordestino, serviam de lambedouros para o gado, fundamentais para a sua alimentação. As fazendas geralmente eram construídas às margens de um rio. Não necessitava de muita gente para o trabalho. Um só homem era suficiente para cuidar de aproximadamente 250 cabeças de gado.

Com Mossoró o mesmo aconteceu. A princípio era a Fazenda Santa Luzia, que pertencia, antes de 1739, ao capitão Teodorico da Rocha. Por volta de 1770, a posse da fazenda estava com o português Antônio de Souza Machado, e foi por essa época que a fixação demográfica foi iniciada pela criação de gado, oficina de carnes e extração do sal. Manuel Ferreira Nobre, ajudante de ordens do presidente da Província Leão Veloso, conta em seu "Breve Notícia sobre a Província do Rio Grande do Norte, que segundo a tradição, a primeira exploração de Mossoró teria se dado no correr do ano de 1633. Em nota de rodapé do mesmo livro, o professor Manuel Rodrigues de Melo explica que a informação de Manuel Ferreira, embora baseada na tradição merece atenção, visto que em 1612 o povoamento chegou até o rio Açu, e o sertão do Açu era o caminho natural para o Jaguaribe, que obrigatoriamente passava por Mossoró. O que se sabe ao certo é que em 13 de fevereiro de 1852" foi lida na Assembléia provincial uma representação dos habitantes da freguesia de Santa Luzia do Mossoró, pedindo que se elevasse a povoação à categoria de vila e município". A lei n° 246 de 15 de março de 1852 , elevou o povoado à categoria de vila, com o título de Vila de Santa Luzia de Mossoró. Em 9 de novembro de 1870, graças a um projeto do Vigário Antônio Joaquim Rodrigues, então deputado provincial, a Lei n° 620 do mesmo ano conferiu-lhe as honras de cidade, com a denominação de cidade de Mossoró, que permanece até os dias atuais.

Mas por que Mossoró?

Para o historiador potiguar Luís da Câmara Cascudo, o topônimo provém dos cariris Monxorós ou Mossorós. Para Antônio Soares, Mossoró é corruptela de mô-çoroc, vocábulo indígena que significa fazer roturas, o que rasga, rompe ou abre fendas. "Aplica-se bem ao rio Mossoró, que rasgou ou rompeu a terra marginal em diversos pontos, formando camboas". No mesmo trabalho, Antônio Soares cita Miliet de Saint Adolfhe para quem o nome teria vindo de uns índios aldeados nas proximidades da foz do Apodi, que seriam os Macarus (ou Maçarus). Cita ainda Saldanhas Marinho, para quem "Mossoró" era corruptela de mororó, árvore muito flexível, resistente e vulgar no norte. Em outras fontes encontramos também Mossoró como sendo certo vento que sopra do norte. Quem tem razão não sabemos. O que sabemos é que Mossoró ficou sendo desde 9 de novembro de 1870.

Os primeiros automóveis de Mossoró

E, de repente, chega o automóvel e transforma a cidade. O monstro irrompeu bufando, "soltando fumaça pelas ventas feito a besta-fera". Era a modernidade que chegava ao interior do Estado. E veio pra ficar!

Antes, existia apenas os velhos carros-de-boi e a Diligência de Seu Pompílio, que era um carro grande, pesado, de quatro rodas, puxado por dois burros. Essa diligência era empregada no transporte de passageiros entre o Porto de Santo Antônio e a cidade de Mossoró, e vice-versa. A viatura tinha vários lugares e pegava diversos passageiros. O preço de uma lotação completa era de dez mil réis; passagens avulsas custavam um mil réis.

E tudo ia bem até que em 11 de maio de 1911 apareceu o primeiro automóvel em Mossoró, adquirido pela firma Tertuliano Fernandes & Cia. Era um veículo de marca "Westinghause", de fabricação alemã, com capota desmontável, buzina externa e caixa de ferramentas no estribo esquerdo, além de manivela e rodas com aros de madeira. No motor, 40 cavalos; tinha acomodação para 8 passageiros.

O jornal "O Mossoroense" noticiava, na época: " O carro dos Fernandes fez lindas evoluções pelas ruas da cidade".

Lauro da Escóssia registrou no seu livro "Cronologias Mossoroenses – quando, como e onde aconteceram os fatos... – Coleção Mossoroense – Vol. CLXXXII – que "o povo acolheu a chegada do esquisito invento portando-se de joelhos nas calçadas da praça da Redenção e rua Almeida Castro, por onde passou o veículo, mesmo empurrado, pois vinha com uma peça quebrada".

Nesse mesmo período, a municipalidade inicia a construção de estradas para automóveis, concedendo ajuda financeira à firma Tertuliano Fernandes & Cia., que pretendia usar o automóvel adquirido para transporte de passageiros em linhas a serem organizadas entre Mossoró e as de Areia Branca, Apodi e Pau dos Ferros.

Junto com o automóvel, veio o motorista do Rio de Janeiro. Era o Sr. Cesário Martins, que durante o período de sua permanência em Mossoró ministrou ensinamentos a várias pessoas. Quem primeiro aprendeu a dirigir a máquina foi Chico Panema. Mas não era um bom motorista. Numa viagem que fez para o Apodi, esqueceu-se de colocar água na caldeira e o motor do carro estourou. Ficou atolado no areal entre Apodi e Mossoró. Não teve mais conserto e alguns anos depois foi vendido e levado para o Rio de Janeiro como sucata.

Veio depois o automóvel do comerciante Delfino Freire da Silva. Era um "Berlier" azul, de sete lugares, imenso. Fez uma verdadeira revolução em Mossoró. Para dirigi-lo, veio um chofer do sul, chamado Fraga. Gostou da cidade e tornou-se mossoroense.

Outro automóvel que fascinou os mossoroenses da época foi o Itala azul-cinzento, de sete lugares, de origem italiana, pertencente ao capitão zeta, Manoel Tavares Cavalcanti.

Novos carros foram aparecendo em Mossoró. Alguns de marca Ford, o chamado "fura-mundo", o mais popular da época. E a frota não parou mais de crescer.

Outros tempos aqueles. O automóvel não criou apenas uma profissão nova: a de "chauffer". Criou, também, uma época inteiramente sua: a era do automóvel!


Fragmentos de história da abolição mossoroense

Em 30 de setembro, Mossoró comemora a mais cívica de suas festas: a libertação de seus escravos em 1883, fato ocorrido cinco anos antes da famosa Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888, a cognominada "Lei Áurea", assinada pela Princesa Isabel, que acabava definitivamente com a escravidão no Brasil. Não foi a primeira cidade brasileira a libertar seus escravos, como muitos apregoa; esse mérito coube a Acarapé, no vizinho Estado do Ceará, que libertou os seus escravos no dia 1º de janeiro de 1883. Na realidade, Mossoró foi a sexta cidade a acabar de vez com a mancha negra da escravidão, já que antes de 30 de setembro, cinco outras cidades cearenses já os tinham libertados, como segue:

* Icó, em 25 de março de 1883;

* Baturité, em 25 de março de 1883;

* Maranguape, em 20 de maio de 1883;

* Fortaleza, em 24 de maio de 1883 e

* Viçosa, em 29 de setembro de 1883.

Acarapé, já mencionada, ainda era vila, pois não tinha sido elevada à categoria de cidade. Mossoró, no entanto, "é a única cidade em todo o Brasil onde a abolição é comemorada com as homenagens da gratidão e do orgulho mental", segundo as palavras do historiador "Luís da Câmara Cascudo".

A idéia de libertação dos escravos veio do Ceará, trazida por Romualdo Lopes Galvão e sua esposa D. Amélia Dantas de Souza Melo Galvão. Quando o casal chegou a Mossoró, na primeira quinzena de 1882, foi recebido festivamente pelos seus amigos e companheiros da Loja Maçônica "24 de Junho". Romualdo trazia uma mensagem da maçonaria de Fortaleza para a Loja "24 de Junho", de Mossoró, para concitarem, sem perda de tempo, seus amigos e parentes para levar a efeito a grande batalha cívica em favor da raça negra. E foi o próprio Romualdo que promoveu a fundação da "Libertadora Mossoroense", como presidente interino, no dia 6 de janeiro de 1883, na "Casa das Sessões da Câmara Municipal". O objetivo da entidade, era de libertar todos os escravos do município de Mossoró, a exemplo do que havia sido feito em Acarapé, no Ceará. Uma vez constituída a sociedade com as adesões dos melhores elementos da terra, foi eleita por aclamação a diretoria definitiva com Joaquim Bezerra da Costa Mendes, presidente, Romualdo Lopes Galvão, vice-presidente, Frederico de Carvalho, 1º secretário, Dr. Paulo Leitão Loureiro de Albuquerque, como orador.

O Código da Liberdade era composto de um único artigo, sem parágrafo, que dizia: "Todos os Meios são Lícitos a fim de que Mossoró Liberte os seus Escravos".

Mossoró não foi uma cidade de muitos escravos. Existiam 86, segundo registros da Coletoria Estadual, em livro para esse fim destinado. Trabalhavam principalmente no comércio e nas residências como domésticos. Quarenta, destes escravos, foram libertados numa única noite, numa sessão especial realizada na Loja Maçônica "24 de Junho", no dia 10 de junho de 1883, resultado do trabalho conjunto de todas as forças abolicionistas de Mossoró, unidas numa campanha memorável.

Possuir escravos era sinônimo de poder. Era um bem material caro. Comprava-se escravos como se comprava um boi de cultivador. Tinha que trabalhar muito para compensar o investimento. Daí a dificuldade que os abolicionistas encontraram para a libertação dos cativos. Alguns proprietários de escravos, abraçando o movimento, os alforriavam sem problema. Outros, exigiam indenização pela perda de patrimônio.

Mas no dia 30 de setembro de 1883, ao meio-dia, Joaquim Bezerra da Costa Mendes, presidente da Libertadora Mossoroense, pôde declarar de viva voz: "Mossoró está livre: aqui não há mais escravos!"

FONTE - GERALDO MAIA

O sal da terra

O sal foi um dos primeiros produtos a ser explorado comercialmente no Rio Grande do Norte. A exploração normal e extensiva das salinas de Mossoró, litoral de Areia Branca, Açu e Macau data de 1802. Mas o conhecimento de jazidas expontâneas na região já era sabido desde o início da colonização.

A primeira referência que se tem sobre sal no Rio Grande do Norte encontra-se registrado no documento que Jerônimo d'Albuquerque escreveu a seus filhos Antônio e Matias em 20 de agosto de 1605, onde fala de salinas formadas espontaneamente a aproximadamente 40 léguas ao norte, o que corresponde hoje as salinas de Macau. Desse fato, voltamos a ter notícias quando consultamos o "Alto de repartição das terras" feito em Natal em fevereiro de 1614, onde está escrito que Jerônimo de Albuquerque dera aos filhos Antônio e Matias, em 20 de agosto de 1605, umas salinas que estariam a quarenta léguas para o norte (aproximadamente 240 Km), mas que nunca foram cultivadas nem feitas benfeitorias.

Em 1627, o frei Vicente do Salvador registrou a colonização norte-riograndense. Notou que "as salinas onde naturalmente se coalha o sal em tanta quantidade que se podem carregar grandes embarcações".

Outro registro que encontramos nos velhos livros de história fala que em janeiro de 1644 alguns Tapuias, de volta do Outeiro da Cruz (Maranhão), onde tinham estado em combate, entraram nas salinas de Mossoró e degolaram alguns trabalhadores que ali se encontravam.

Em 1808, os salineiros da região foram beneficiados, quando o rei de Portugal, D. João VI, impossibilitado de receber carregamentos de sal de Portugal, assinou a carta régia que liberava de quaisquer imposições a extração do sal favorecendo, sobremaneira, o comércio interno.

Em 1844/45, setenta e oito barcos carregaram em Macau 59.895 alqueires de sal. No entanto, embora o sal extraído no Rio Grande do Norte fosse superior pela sua qualidade intrínseca, perdia essa qualidade pela rudeza como era produzido, de modo que nos anos seguintes perdia mercado para o sal europeu que era mais barato e melhor preparado. Um dos fatores que oneravam o preço do sal produzido no Rio Grande do Norte era a dificuldade no transporte por causa do assoreamento das barras dos rios Mossoró e Açu.

Em 1886 é criado um imposto protecionista para tributar o sal estrangeiro. Dessa forma, o sal produzido no Rio Grande do Norte passa a ser competitivo, e isso impulsiona decisivamente o desenvolvimento da nossa indústria salineira .

No período de 1941/45, houve uma retração na extração do sal, motivada pela diminuição da navegação de cabotagem durante a Segunda Guerra Mundial. Apesar disso, o sal continuou sendo um dos principais produtos comercializados por Mossoró e região, sofrendo oscilações que não comprometeram o mercado de forma mais acentuada.

Depois de toda essa explicação, o leitor poderia perguntar: como Mossoró está entre os municípios produtores de sal se não fica no litoral? Para responder a essa pergunta, temos que dá outras explicações: o clima predominante em Mossoró é semi-árido quente, com temperatura oscilando entre 24o e 35o centígrados, temperatura essa que dura a maior parte do ano. O ar apresenta baixo teor de umidade, elevada evaporação, apresentando uma média de 2.850mm. As precipitações ocorrem ao redor de 450mm anuais e a evaporação líquida é de 2.400, sendo que a intensidade de irradiação solar varia entre 120 e 320 horas/mês, com ventos que apresentam velocidade média entre 3,8 e 4,4m/s. Junto a isso temos ainda um solo impermeável, o que assegura condições ideais para a cristalização e colheita do sal, com um grau de pureza que atinge até 98o Baummer. E onde estão localizadas as salinas? Poderia perguntar ainda o atencioso leitor. As salinas de Mossoró estão localizadas na várzea estuarina dos rios Mossoró e do Carmo. Essa várzea é inundada, ora pelas águas do mar, ora pelas águas das enchentes dos rios, que quando cessam as chuvas formam salinas naturais, onde o relevo é plano e baixo, estreitando-se para o litoral, onde a água do mar chega a alcançar até 35 Km do litoral. Essa série de fenômenos naturais é que faz com que Mossoró possa figurar entre os municípios produtores de sal do Rio Grande do Norte.
FONTE - GERALDO MAIA

MERCADOS PÚBLICOS DE MOSSORÓ

MERCADO PÚBLICO DO CENTRO, BOM JARDIM E ALTO DA CONCEIÇÃO

O Mercado Público Municipal tinha, no início do século, um papel muito importante na vida de uma cidade. Era no mercado que se encontravam os comerciantes que abasteciam as cidades dos mais diversos produtos que iam desde os cereais, carnes e frutas, até roupas, produtos de couro, cerâmicas (utilitárias e decorativas) e uma infinidade de doces, bolos e refrescos. Não faltavam também as bancas de pinga.

A primeira notícia que temos de Mercado Público Municipal em Mossoró é do dia 23 de agosto de 1875, quando a Câmara Municipal de Mossoró autorizou, através da Lei nº 739 da mesma data, “a construção de uma casa destinada ao mercado da cidade a ser feita mediante contrato com quem melhor vantagem oferecesse”. Em 12 de julho de 1877, portanto dois anos após a autorização, os construtores Antônio Secundes Filgueira e José Alexandre Freire de Carvalho fazem entrega da Casa do Mercado que iria substituir a palhoça que fazia vezes de tal onde, sem as mínimas condições de higiene, eram expostos carnes e outros gêneros. Esse primitivo mercado foi construído no mesmo local onde ainda hoje se encontra o Mercado Municipal de Mossoró, no centro da cidade. Esse prédio funcionou com a arquitetura primitiva até 1908, quando passou por uma substancial reforma. Em 1947, na administração do Prof. Gerson Dumaresq, passou por uma nova reforma da sua estrutura, tendo inclusive sua área de cobertura ampliada.

Mas a cidade crescia e já se fazia necessário a construção de um outro mercado. Em 30 de setembro de 1951 foi inaugurado um novo prédio para um segundo Mercado Público Municipal. O novo mercado foi construído no bairro do Alto da Conceição e na sua inauguração estiveram presentes, dentre outras autoridades, o governador do Estado do Rio Grande do Norte, Sílvio Pedroza, o prefeito de Mossoró Francisco Mota e o bispo diocesano. O discurso da inauguração foi proferido pelo Dr. Hélio Santiago, então secretário do governo do município.

Outros prédios foram construídos nos bairros periféricos para instalação de mercados à medida que a cidade se expandia. E neles tudo se vendia, principalmente carnes, frutas e verduras. Alguns ainda permanecem atendendo a população, nos mesmos moldes de antigamente. Outros, como o mercado do Centro, passaram a vender outros artigos mais duráveis, como roupas e aviamentos.

A importância do Mercado Público atualmente foi renegada a um plano inferior frente ao surgimento dos supermercados, com seus produtos embalados em plástico, suas carnes congeladas, com preços estampados previamente nas embalagens, sem dar chance, ao comprador, de pechinchar os preços como acontecia nos velhos mercados e feiras livres.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Um certo Sargento-mor da Ribeira de Mossoró

Um certo Sargento-mor da Ribeira de Mossoró
Se atribui ao Sargento-mor Antônio de Souza Machado, português de Braga, antigo morador de Russas e da Barra de Mossoró, a quem competia maior porção de terras da Ribeira do Apodi, ser o titular e verdadeiro colonizador da região. Era proprietário da Fazenda Santa Luzia, que compreendia a Serra Mossoró, Pau do Tapuio e Sítio Bonsucesso. Essa fazenda, segundo informações do historiador Francisco Fausto de Souza, "estendia-se pela margem esquerda do Rio Mossoró e ao mesmo tempo da Mata, tendo entre esta e o Rio uma lagoa de água potável". Essa lagoa enchia-se com as precipitações pluviais ou quando o rio transbordava, saindo do seu leito. Era, provavelmente, a Lagoa de Ipoeira, que ficava em terrenos próximos à atual Igreja do Coração de Jesus, e que fora aterrada em 1878.
Souza Machado invernava todos os anos na Santa Luzia e dela rebanhava o gado de corte, mandando as reses para a "Ilha das Oficinas" para serem abatidas e feita a carne seca para exportação rumo as Capitanias do Sul, especialmente Pernambuco. O local era Porto Franco, onde depois veio a ser a Estação da Estrada de Ferro de Mossoró.
Por volta de 1750, Souza Machado mudou-se com a família para as terras da Santa Luzia. E o povoamento começa, pois "além das casas residenciais da família do proprietário, erguiam-se dezenas de outras, igualmente de taipa e palha, raras com telhas côncavas, na dispersão dos pequeninos sítios perto das cacimbas cavadas periodicamente", como nos ensina Câmara Cascudo.
Era um tipo interessante, esse Capitão-mor: "encarnava o espírito de senhor latifundiário poderoso numa época de declínio, ainda assim, imperioso e forte", usando as palavras de Raimundo Nonato. "Mantinha firme aquelas mesmas qualidades de quem sabia dirigir com energia. Daí, por certo, a prosperidade das suas fazendas, onde suas ordens criavam uma verdadeira ordem de disciplina e trabalho. Sua influência estava em toda parte, e nas suas terras sua sombra era sempre vigilante".
Por volta de 1772, Souza Machado, abastado e trabalhador incansável, interessando-se pelo povoamento da Ribeira de Mossoró, resolvera, às suas expensas, construir uma Capela em sua fazenda "Santa Luzia", com a invocação do nome da Virgem de Siracusa – "a quem se diz que tem nos olhos a claridade luminosa do primeiro Dia da Criação". Raimundo Nonato no seu livro "História Social da Abolição em Mossoró (Coleção Mossoroense – Vol. CCLXXXV - 1983)" diz: "A exemplo de outras capelas feitas no sertão, corria em Mossoró a lenda de que a de Santa Luzia foi feita em pagamento de uma promessa da mulher de Souza Machado, Rosa Fernandes". Não sabemos se houve ou não a promessa; sabemos sim que Antônio de Souza Machado e sua mulher Rosa Fernandes, solicitaram a Provisão das Dignidades do Cabido de Olinda/PE, autorização para construção de uma capela em suas terras, permissão essa concedida a 5 de agosto de 1772, sendo o primeiro ato litúrgico celebrado em 25 de janeiro de 1773, quando foi batizada uma criança do sexo feminino, em cerimônia cujo oficiante foi o padre José dos Santos da Costa. Essa Capela foi construída de pedra e cal, no citado ano de 1772, pelo referido Sargento-mor, que com ela despendeu a quantia de 590$770rs. Em derredor do modesto templo foram sendo construídos rústicos casebres que, mais tarde, formariam a quadra da rua.
A construção da Capela de Santa Luzia é considerada o marco inicial para o surgimento da cidade de Mossoró. E da Capela, o Sargento-mor Antônio de Souza Machado foi procurador, administrador e tesoureiro até a sua morte em 1798.
Na entrada da atual Matriz de Santa Luzia, que fora edificada no mesmo local da antiga Capela, existe uma placa que diz: "À memória do Sargento-mor Antônio de Souza Machado a homenagem dos professores e formados da Universidade Regional do Rio Grande do Norte, no bicentenário da fundação de Mossoró. V-VIII-MCMLXXII".
FONTE - COLUNA DE GERALDO MAIA, NO JORNAL O MOSSOROENSE

O acendedor de lampiões


A idéia foi do intendente Aderaldo Zózimo de Freitas, mas toda a assembléia aprovou: as ruas de Mossoró precisavam ser iluminadas. E em 1896 foram instalados postes nas esquinas da cidade e nos pontos mais centrais, pelas ruas e pelas praças, onde ficavam pendurados os lampiões de querosene. Era o progresso que chegava ao interior, dando mais segurança e ares de modernidade.
Na realidade, o projeto de iluminação tinha sido apresentado no ano anterior, quando o município era administrado pelo comerciante Romualdo Lopes Galvão, que havia tomado posse a 5 de outubro de 1892. Romualdo Galvão já havia administrado o município no período de 1883 a 86, sendo que no primeiro ano do seu primeiro período administrativo, 1883, ocorreu em Mossoró o movimento pela libertação antecipada dos escravos, movimento esse que é lembrado e comemorado até os dias atuais. E Romualdo Galvão foi uma das figuras de maior destaque na campanha que teve seu início em 6 de janeiro daquele ano com a fundação da Sociedade Libertadora Mossoroense e culminou em 30 de setembro do mesmo ano, quando foi declarado oficialmente que Mossoró estava livre da mancha negra da escravidão.
Aderaldo Zózimo de Freitas, o autor do projeto, também era comerciante e tinha seu nome ligado ao movimento abolicionista. Tinha, portanto, alguns pontos em comum com o Presidente da Intendência e o respeito da Edilidade, cargos esses que correspondem hoje ao de prefeito e de vereadores.
O ano de 1895 estava sendo um ano de bom inverno, o que na linguagem do sertanejo era uma grande riqueza. O município contava com um rebanho de 15.000 cabeças de gado vacum, 2.000 cavalar, 1.000 muares, 10.000 caprinos, 8.000 lanígeros e 1.000 suínos.
A cidade vivia um período de desenvolvimento, onde já existiam 5 escolas criadas e mantidas pela Edilidade. Existia também, em 1895, uma preocupação muito grande com a saúde pública, tanto assim que nesse ano começou a funcionar o serviço de remoção do lixo e limpeza das ruas e praças da cidade.
Para isso, contratou-se com Antônio Pompílio de Albuquerque o referido serviço, pela quantia de 2.400$ por ano. A limpeza seria feita quatro vezes por ano, em março, junho, setembro e dezembro, a começar do córrego do Canecão à baixa do Caetaninho, inclusive o caminho do Cemitério. Não só varrimento e remoção do lixo das ruas, praças, becos e travessas, como também a limpeza dos matos, nivelamento dos buracos, deixando apenas capim e relva. Duas vezes por semana as carroças percorriam determinadas ruas, fazendo-se anunciar pelas campainhas, recolhendo o lixo e cisco das casas e edifícios da cidade acomodados em vasilhas próprias. Mas as ruas da cidade eram iluminadas apenas pela lua.
Sendo aprovado por unanimidade o projeto de iluminação pública da cidade, que contava com uma verba de 600$ no orçamento público, foi providenciada a compra dos lampiões (sessenta e três lampiões), dos postes de madeira etc. Na sessão de 14 de fevereiro de 1896 foi criado o cargo Zelador da Iluminação. Ao Zelador da Iluminação, ou Acendedor de lampiões, como ficou conhecido esse funcionário, cabia abastecer de querosene os lampiões, acender e apagar, enfim, manter os mesmos funcionando.
E assim, quando vinha chegando a hora do escurecer, aparecia o Acendedor de lampiões com uma escada nas costas e uma caixa de fósforo nas mãos. De poste em poste escorava sua escada, subia por ela, tirava a manga de vidro do lampião e acendia o pavio.
Ao amanhecer do outro dia, voltava o Acendedor de lampiões com sua escada, fazendo o mesmo giro, de poste em poste, para abastecer e limpar os vidros das mangas dos lampiões com um pano úmido. E a rotina se repetia dia após dia, menos nas noites claras, pois nestas noites, era a lua que cobria de luz as ruas e praças da cidade.
FONTE: COLUNA DE GERALDO MAIA, NO JORNAL O MOSSOROENSE

Um homem e seu destino

Um homem e seu destino

Antônio Alves Brasil era cirurgião dentista, poeta e jornalista. Chegou a Mossoró por volta de 1920 e aqui instalou o seu consultório. Era um jovem alegre, sotaque, hábitos e bossa de carioca, como se dizia na época, se bem que nascido no Ceará, mas criado no Rio de Janeiro. Homem de múltiplas funções, ambientou-se fácil em Mossoró, onde instalou um curso de línguas e conhecimentos gerais, ensinando, nas horas vagas de atendimento do consultório, gramática, francês, inglês, história, geografia, física e química. Com seus conhecimentos, tinha tudo para se tornar um homem bem-sucedido profissionalmente, já que o seu curso era bastante procurado e mais ainda o seu consultório de dentista.
De inteligência prodigiosa, passou a colaborar com o jornal O Mossoroense, onde publicou uma série de narrativas contando toda a história do romântico cangaceiro Jesuíno Brilhante, de quem era parente e de quem havia herdado suas memórias anotadas e deixadas em poder de seu pai Antônio Alves, que havia sido amigo do cangaceiro. O trabalho tinha o pomposo título de "A vida e as Aventuras de Jesuíno Brilhante". Mas não chegou a concluir a narrativa.
Era poeta. E como tal, usava o pseudônimo de João Procópio, tendo sua produção poética publicada nas páginas de O Mossoroense. Alguns trabalhos assinava também como Cibizil.
Ganhou destaque na história da invasão de Mossoró por Lampião em 13 de junho de 1926, por ter sido ele a dar o alarme da chegada dos cangaceiros. Estava ele na torre da Matriz munido de binóculo e conseguiu avistar o bando no patamar da capela do Alto da Conceição.
Antônio Brasil tinha, porém, um grande defeito: a inconstância. Por qualquer motivo, suspendia as aulas. O mesmo fazia com o consultório, onde era comum desmarcar as consultas sem nada alegar. E foi caindo em descrédito. Aliado a isso, era também de espírito anarquista, chegando a criar problemas de ordem social. Em uma festa carnavalesca no Cine Almeida Castro, chegou a tumultuar o ambiente por provocar choque com a polícia. Acontece que o mesmo havia comparecido ao baile com uma fantasia que feria a moral da época, e o capitão Abdon Trigueiro, que era o Delegado de Polícia, o retirou do salão, provocando o tumulto.
De outra feita, proferiu um discurso na sede da Arcádia Lítero Cívica de Mossoró, entidade cultural da qual era sócio, que provocou o fechamento da mesma. O discurso proferido era altamente afrontoso à moral.
Dessa forma, o jovem e talentoso Antônio Brasil foi se perdendo no cipoal de problemas provocados pelo seu "Modus vivendi". Já não era mais possível permanecer em Mossoró. E foi assim que um dia deixou a cidade em busca de novos ares. Andou por várias cidades do Estado sem se fixar em nenhuma. Resolveu então voltar ao Rio de Janeiro, mas sem o mesmo entusiasmo que lhe era característico. Não tinha mais ânimo para exercer a profissão de cirurgião dentista nem também de professor. Procurou outra profissão, mas nada lhe servia. Acabou aceitando trabalhar como carvoeiro de um dos depósitos do Loide Brasileiro, ocupação que em nada tinha a ver com os seus conhecimentos.
Essa foi a última notícia que se teve de Antônio Brasil. Um homem culto, de conhecimentos variados, mas de comportamento inaceitável para a época, principalmente numa sociedade laboriosa e tranqüila como era a de Mossoró. E de todos os seus feitos, o único que ficou marcado em nossa história foi o de ter sido ele a dar o alarme da chegada dos cangaceiros naquela tarde de 13 de junho de 1927, alertando os defensores para a batalha na qual o povo de Mossoró pode mostrar sua fibra quando heroicamente repeliu a horda de cangaceiros que atacava a cidade.
FONTE - COLUNA DE GERALDO MAIA, NO JORNAL O MOSSOROENSE (17/10/1872), EDIÇÃO DO DIA 8 DE FEVEREIRO DE DE 2002-SEXTA-FEIRA

HISTÓRICO DO BANCO DO BRASIL - MOSSORÓ

No centenário jornal "O Mossoroense", de 01 de janeiro de 1919, era publicado o seguinte ofício:
"Mossoró, 02 de dezembro de 1918.
Ilmos. Srs.
Temos a grata satisfação de vos comunicar que instalamos nesta cidade uma filial do Banco do Brasil, do Rio de Janeiro.
Pondo à vossa disposição os serviços da mesma filial, aguardamos vossas ordens para o bom desempenho das quais empregaremos os nossos melhores esforços.
Rogando-vos a fineza de tomar nota das assinaturas abaixo, vos apresentamos as nossas
Saudações, ...
Dessa maneira o Banco do Brasil dava conhecimento ao povo de Mossoró de sua instalação, cuja sede estava situada na Praça 6 de janeiro e Av. Tavares de Lira, num prédio que pertencia a Francisco Borges de Andrade. A agência instalada em Mossoró era a 36ª filial do Banco no Pais, sendo instalada apenas 1 ano e 6 mese após a de Natal.
A sua instalação ocorreu em 02 de dezembro de 1918, sendo o seu primeiro Diretor-Gerente o Sr. Álvaro Feijó Ribeiro e tendo o Sr. Virgílio Catanhedo Sobrinho como Contador-Guarda-Livros. O primeiro livro "Diário" foi registrado na Junta Comercial do Estado em 29 de novembro de 1918. O capital atribuído para início das operações da agência foi de 300 contos de réis e o primeiro suprimento efetuado pela firma M.F. do Monte & Cia.. O primeiro depósito em conta corrente foi efetuado por Lourival F. Brasil, no valor de R$ 2.900$000 e a primeira ordem de pagamento tomada por F. Borges de Andrade & Cia., de R$ 7.100$000 a favor de Manoel Joaquim da Costa, de Natal.
Poder contar com uma agência do Banco do Brasil era um velho sonho dos que atuavam no comércio de Mossoró. Em sua edição de 24 de outubro de 1917, o jornal "O Mossoroense" dava a seguinte notícia: AGÊNCIA DO BANCO DO BRASIL – Consta-nos, com visos de verdade, que o comércio desta praça trabalha junto aos poderes competentes para a instalação de uma agência do Banco do Brasil nesta cidade. Folgamos em dar esta reportagem porque, se em breve realizar-se este cometimento, será um passo largo em demanda de um futuro mais opulento do adiantado comércio desta praça, uma das primeiras do Norte. Com esse fruto veremos os pequenos comerciantes desenvolverem os seus negócios coma mais largueza, com mais segurança. Aqueles que, sobre corajosos, inteligentes, darão, certo, maior incremento aos seus negócios, abrirão caminho a novos tentames, efetuarão transações de conta própria, alçarão vôos maiores. Além de tudo, aproveita a agência às grandes casas para os grandes negócios, aos pequenos capitais pela facilidade de recursos a novos empreendimentos. Aos demais, aproveitará a agência a classe média comercial em prol da pequena indústria, e tanto maior à grande indústria dos arramjados industriais. Nesse mister há muito que explorar.
Em 1934 deu-se a mudança da agência do prédio onde originalmente havia sido instalada em 1918, na rua 6 de Janeiro, para a Rua do Comércio.
Em 20 de setembro de 1960 a agência muda-se mais uma vez para um novo edifício que ficava na Praça Getúlio Vargas, nº 45.
Em 11 de fevereiro de 1978 é inaugurado o prédio definitivo na Praça Vigário Antônio Joaquim, em solenidade a que estiveram presentes autoridades do Estado, além de Diretores da referida organização de crédito nacional, sendo o ato assistido por grande número de pessoas. O novo prédio fora construído no local onde havia sido fundado o agora centenário Colégio Diocesano Santa Luzia, e onde o mesmo funcionou por quase cinqüenta anos. A compra do prédio do velho educandário foi efetuada no dia 03 de janeiro de 1974, tendo o Prefeito Dix-huit Rosado assinado a escritura de compra como testemunha.