sábado, 5 de dezembro de 2009

Mossoró à época que adotou Santa Luzia como padroeira

FONTE - COLUNA GERALDO MAIA, PÚBLICADA NO JORNAL O MOSSOROENSE (17/10/1872), EDIÇÃO DO DIA 6 DE DEZEMBRO DE 2009(DOMINGO)

gemaia@bol.com.br

Quem primeiro chamou o lugar de Santa Luzia, não se sabe. Não há registro histórico. O que se sabe é que antes de 1739 já era habitado este lugar onde se encontra a cidade de Mossoró e já era conhecido naquele tempo pelo nome de Santa Luzia. Encontramos provas disso num documento de concessão de terras ao capitão João do Vale Bezerra, datado de 25 de abril de 1739, no qual o mesmo cita, quando descreve o local desejado, que fica próximo a um córrego grande, que no tempo do inverno vem desaguar em um rio chamado Mossoró, a que chamam de "Saco Grande", junto de "Santa Luzia". O lugar "Santa Luzia" , citada no documento oficial, provavelmente era uma fazenda de gado próspera ou em formação.

Em 1754, José de Oliveira Leite e João Marques Moreira, moradores na ribeira de Mossoró, requereram e lhe fora concedida uma sesmaria de terra, na ribeira de mesmo nome, no Riacho do Canto do Junco, dizendo o primeiro dos requerentes, José de Oliveira Leite, que já era proprietário do sítio "Santa Luzia", onde tinha currais de gado situado.

Estas terras do sítio "Santa Luzia" teriam tido como primeiro proprietário o capitão Teodorico da Rocha, antes de 1939. Foi provavelmente este último que deu nome ao lugar.

Em 1770 era proprietário do sítio Santa Luzia o Sargento Mor Antônio de Souza Machado. Não se sabe ao certo, em que ano Souza Machado adquiriu a propriedade. Mas a devoção a Santa Luzia começou realmente em 1772, com a construção de uma capela em homenagem à Virgem de Siracusa, para fazer cumprir uma promessa de sua esposa, D. Rosa Fernandes. A capela ficou pronta mas não tinha imagem. Em 1779 D. Rosa Fernandes traz de Portugal uma imagem de Santa Luzia, em madeira, adquirida pelo valor de 25$600. Essa imagem é a mesma que até hoje é conduzida nas procissões e peregrinações.

Com a construção da capela de Santa Luzia em 1772, dar-se a fixação do arraial, pois naquele ponto, além das casas residenciais da família do proprietário, erguiam-se dezenas de outras casas, todas de taipa e palha, sendo algumas cobertas com telhas de barro e outras com palha de carnaúba, na dispersão dos pequenos sítios perto das cacimbas cavadas periodicamente. A lagoa de água potável que existia no arraial, que ficava próximo aonde hoje se encontra a Igreja do Bom Jesus, no centro da cidade, fora aterrada durante a grande seca de 1877-78.

Descrevendo a região, diz o mestre Cascudo: " Os pereiros de verde intenso e obstinado alegravam a visão do povoado que uma mata de cedros sombreava. Esta mata de cedros constituiu pouso das primeiras feiras incipientes e "rancho" natural para os viajantes frequentes e ocasionais. Viviam em 1870, robustos e ornamentais à margem esquerda do Mossoró, ponto de venda de algodão, delícia dos tabuleiros de doces, sombra macia a violência da reverberação solar, abrigando a conversa miúda dos miúdos acontecimentos locais".

Na praça da capela, hoje Praça Vigário Antônio Joaquim, erguia sua copa redonda e frondosa o velho umarizeiro, árvore secular, em cuja sombra se abrigavam os cargueiros de sal e os tangerinos de cereais para permutarem os seus produtos.

Ao entardecer, o sino da capelinha de Santa Luzia batia lentamente as três badaladas das trindades. Como toda população eram católicos, fazia-se o sinal da Cruz.

As noites eram tranquilas no arraial. Ouvia-se, ao longe, as vozes dos animais e o sussurro das palmas dos carnaubais.

O desenvolvimento populacional do arraial, nessa fase inicial, foi muito lenta. Francisco Fausto de Souza informa que "de 1772, quando foi construída a Capela, até 1842, quando foi a Ribeira de Mossoró elevada a Freguesia, a Povoação de Santa Luzia pouco aumentara consistindo ela até então de um pequeno quadro em frente a respectiva "Capela". Em dezembro de 1810, o viajante Henry Koster, indo para o Ceará, atravessa o arraial de Santa Luzia. Esse viajante, "que era inglês nascido em Portugal, realizou uma jornada fabulosa, de Recife a Fortaleza, ida e volta, a cavalo, varando o interior, olhando tudo e tudo registrando com clareza e verdade", como registrou o mestre Cascudo. O trabalho de Koster é considerado o primeiro e melhor depoimento sociológico e etnográfico da região. Nele, Koster descreve o arraial de Santa Luzia dizendo constar de duzentos ou trezentos habitantes e ser edificado em quadrângulo, tendo uma igreja e casas pequenas e baixas, onde o mesmo pode encher suas garrafas de bebidas e conseguir suprir-se de rapaduras.

Em 13 de fevereiro de 1852 foi lida na Assembleia Provincial uma representação dos habitantes da freguesia de Santa Luzia de Mossoró, pedindo que se elevasse a povoação à categoria de vila e município. A Lei nº 246 de 15 de março de 1852, elevou o povoado à categoria de vila, com o título de Vila de Santa Luzia de Mossoró. Em 9 de novembro de 1870, graças a um projeto do vigário Antônio Joaquim Rodrigues, então Deputado Provincial, a Lei nº 620 do mesmo ano conferiu-lhe as honras de cidade, com a denominação de Cidade de Mossoró. Assim nasceu a cidade, tendo como sua padroeira Santa Luzia, a santa das eternas claridades visuais.

PRIMEIRO ACIDENTE AÉREO EM MOSSORÓ

Esta é uma outra foto que registra um acontecimento que faz parte da História de Mossoró. Esse deve ter sido o primeiro acidente aéreo com vítimas fatais em solo mossoroense. Era uma tarde de sábado, dia 3 de julho de 1959. Dois jovens mossoroenses, aeronautas, faziam evoluções nos céus da cidade. Eram eles Edson Galvão de Saboya, mais conhecido por Etinha, e Valdir Almeida. E eis que os dois pilotos perderam o controle da aeronave e esta veio ao chão. Ambos quase que morreram incontinenti. Tratava-se do avião chamado de Aeronca de prefixo PT-GOB pertencente ao Aero Clube de Mossoró. O acidente fatal se deu mais ou menos ali onde hoje fica a Gerência Municipal de Saúde, onde ficam estacionadas as ambulâncias do Samu e também imediações da residência de Canindé Queiroz e dona Maria Emília. Esta foto mostra o avião de rodas para o ar cercado por muitos curiosos. A queda abriu uma cratera no local. Esta foto nos foi cedida pelo nosso leitor Francivan Amorim a quem ficamos agradecidos publicamente. E se o trágico evento se deu no ano de 1953... então lá se vão 56 anos no túnel do tempo da História mossoroense.

FONTE - COLUNA DO JORNALISTA EMERY COSTA NO JORNAL O MOSSOROENSE (17/10/1872), EDIÇÃO DO DIA 06/12/2009-DOMINGO

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

PRIMEIRO CARRO QUE CIRCULOU EM ASSU

Photographia
















O primeiro autómovel que circulou em Assú. O registro precioso foi feito há quase noventa anos por José Severo de Oliveira, seguramente um dos primeiros fotógrafos a documentar nossa cidade. Proprietário do "Atelier Severo", ele oferecia também serviços tipográficos, xilogravura e encadernação. Atribui-se a ele o projeto da coluna que celebrou a entrada do século 1900, que está edificada no centro da Praça São João. A preocupação com a documentação histórica fica evidante pelos elementos da composição desta foto, e a anotação no verso da cópia: O primeiro auto que entrou nesta cidade, dia 2 de setembro de 1919.
FONTE: BLOG DE JEAN LOPES

terça-feira, 21 de julho de 2009

MOSSORÓ E A SECA DE 1877

FONTE: JORNAL O MOSSOROENSE (17/10/1872)

O ano de 1877 foi terrível para o sertão nordestino. É nesse ano que começa a calamidade da mais terrível das secas que flagelaram as províncias do nordeste no final do século XIX. No Rio Grande do Norte, quase todas as cidades do interior foram atingidas pela intempérie. As populações abandonaram os sítios a procura das cidades. E Mossoró, no oeste potiguar, se viu, de repente, invadida por milhares de retirantes que aqui chegavam em busca da salvação, vestidos de trapos sujos, algumas crianças nuas, barrigudas e magras. "A população sertaneja, apavorada, empolgada por um terror coletivo, deslocou-se em massa para o litoral seduzida pela miragem fatal dos socorros mandados distribuir pelo Governo Monárquico", como nos conta o historiador Oswaldo Lamartine. Muitos não resistiram a viagem e morreram no meio do caminho; outros, os que ainda tinham força para trabalhar, prestaram serviços ao município em troca de alimentação. Foi uma fase negra na história de Mossoró.

Mossoró e a seca de 1877

O ano de 1877 foi terrível para o sertão nordestino. É nesse ano que começa a calamidade da mais terrível das secas que flagelaram as províncias do nordeste no final do século XIX. No Rio Grande do Norte, quase todas as cidades do interior foram atingidas pela intempérie. As populações abandonaram os sítios a procura das cidades. E Mossoró, no oeste potiguar, se viu, de repente, invadida por milhares de retirantes que aqui chegavam em busca da salvação, vestidos de trapos sujos, algumas crianças nuas, barrigudas e magras. "A população sertaneja, apavorada, empolgada por um terror coletivo, deslocou-se em massa para o litoral seduzida pela miragem fatal dos socorros mandados distribuir pelo Governo Monárquico", como nos conta o historiador Oswaldo Lamartine. Muitos não resistiram a viagem e morreram no meio do caminho; outros, os que ainda tinham força para trabalhar, prestaram serviços ao município em troca de alimentação. Foi uma fase negra na história de Mossoró.

Naquele período, Mossoró vivia a fase áurea do seu desenvolvimento. A exemplo da maioria das cidades do interior nordestino, começou a formar a sua economia a partir das atividades agro-pastoris. Mas por estar situada em uma área privilegiada, entre duas capitais e sendo o ponto de transição entre o sertão e o litoral torna-se, já em 1857, uma espécie de empório comercial. Apesar de não situar-se no litoral, contava com um porto, o porto de Mossoró ou porto de Areia Branca, município esse que pertenceu a Mossoró até 1892, quando foi desmembrado. Com a chegada dos navios da Companhia Pernambucana de Navegação Costeira ao porto de Mossoró em 1857, através de uma subvenção concedida pelo governo provincial, o município se torna o centro de comercialização de uma área que atinge, além dos municípios vizinhos, uma parte do Ceará e também da Paraíba. Esse fato é, na visão dos historiadores mossoroenses, o primeiro marco na ascensão de Mossoró a empório comercial. A chegada dos navios fez com que comerciantes de outras praças, principalmente de Aracati/CE, viessem a se estabelecer aqui atraídos pelas oportunidades comerciais que a cidade passou a oferecer. E é esse atrativo que faz com que em 16 de novembro de 1868, o industrial suíço Johan Ulrich Graff se estabeleça em Mossoró com a famosa "Casa Graff", alavancando o seu desenvolvimento econômico com idéias mercantilistas, associadas ao capital aqui investido.

Mas se por um lado o crescimento do comércio atraía grandes comerciantes, por outro lado atraia também os famintos retirantes que buscavam aqui meios de sobrevivência. Em determinado período, chegou-se a registrar nada menos que 70.000 flagelados, segundo nos informa o historiador Câmara Cascudo, vindos de toda zona oeste e de Estados vizinhos, na busca de meios de sobrevivência. "Era a fase cruel da seca dos dois sete, prolongando-se até 1879 e mesmo 1880 que ainda reunia grupos famintos pelas ruas da cidade", nas palavras de Cascudo.

Nesse período, Mossoró era governada pelo caraubense Francisco Gurgel de Oliveira. Apesar das dificuldades que teve de enfrentar para socorrer as vítimas da seca, graças aos auxílios conseguidos do governo provincial e até mesmo de particulares distantes, através da Comissão de Socorros Públicos, que era presidida pelo Dr. Manoel Hemetério, conseguiu, o Coronel Gurgel executar vários serviços nas ruas, no rio e por toda a parte.

A 4 de março de 1878 a Câmara Municipal oficia ao presidente da Província: "A maior parte dessa gente não encontrando um teto que lhe sirva de abrigo passa os dias e as noites exposta às intempéries do tempo, ao sol e ao relento, donde resulta principalmente a espantosa mortalidade que atinge a 40 pessoas por dia".

Foram anos terríveis para Mossoró. A grande seca dos dois sete, como ficou conhecida, marcou profundamente a cidade. A fome, a peste, a morte, o choro de crianças famintas, o olhar desesperado dos adultos desenganados da vida, foram cenas que por muito tempo povoaram a memória dos habitantes de Mossoró.

Naquele período, Mossoró vivia a fase áurea do seu desenvolvimento. A exemplo da maioria das cidades do interior nordestino, começou a formar a sua economia a partir das atividades agro-pastoris. Mas por estar situada em uma área privilegiada, entre duas capitais e sendo o ponto de transição entre o sertão e o litoral torna-se, já em 1857, uma espécie de empório comercial. Apesar de não situar-se no litoral, contava com um porto, o porto de Mossoró ou porto de Areia Branca, município esse que pertenceu a Mossoró até 1892, quando foi desmembrado. Com a chegada dos navios da Companhia Pernambucana de Navegação Costeira ao porto de Mossoró em 1857, através de uma subvenção concedida pelo governo provincial, o município se torna o centro de comercialização de uma área que atinge, além dos municípios vizinhos, uma parte do Ceará e também da Paraíba. Esse fato é, na visão dos historiadores mossoroenses, o primeiro marco na ascensão de Mossoró a empório comercial. A chegada dos navios fez com que comerciantes de outras praças, principalmente de Aracati/CE, viessem a se estabelecer aqui atraídos pelas oportunidades comerciais que a cidade passou a oferecer. E é esse atrativo que faz com que em 16 de novembro de 1868, o industrial suíço Johan Ulrich Graff se estabeleça em Mossoró com a famosa "Casa Graff", alavancando o seu desenvolvimento econômico com idéias mercantilistas, associadas ao capital aqui investido.

Mas se por um lado o crescimento do comércio atraía grandes comerciantes, por outro lado atraia também os famintos retirantes que buscavam aqui meios de sobrevivência. Em determinado período, chegou-se a registrar nada menos que 70.000 flagelados, segundo nos informa o historiador Câmara Cascudo, vindos de toda zona oeste e de Estados vizinhos, na busca de meios de sobrevivência. "Era a fase cruel da seca dos dois sete, prolongando-se até 1879 e mesmo 1880 que ainda reunia grupos famintos pelas ruas da cidade", nas palavras de Cascudo.

Nesse período, Mossoró era governada pelo caraubense Francisco Gurgel de Oliveira. Apesar das dificuldades que teve de enfrentar para socorrer as vítimas da seca, graças aos auxílios conseguidos do governo provincial e até mesmo de particulares distantes, através da Comissão de Socorros Públicos, que era presidida pelo Dr. Manoel Hemetério, conseguiu, o Coronel Gurgel executar vários serviços nas ruas, no rio e por toda a parte.

A 4 de março de 1878 a Câmara Municipal oficia ao presidente da Província: "A maior parte dessa gente não encontrando um teto que lhe sirva de abrigo passa os dias e as noites exposta às intempéries do tempo, ao sol e ao relento, donde resulta principalmente a espantosa mortalidade que atinge a 40 pessoas por dia".

Foram anos terríveis para Mossoró. A grande seca dos dois sete, como ficou conhecida, marcou profundamente a cidade. A fome, a peste, a morte, o choro de crianças famintas, o olhar desesperado dos adultos desenganados da vida, foram cenas que por muito tempo povoaram a memória dos habitantes de Mossoró.

PRIMEIRO SARGENTO-MOR DA RIBEIRA DE MOSSORÓ

FONTE: JORNAL O MOSSOROENSE (17/10/1872)

O Sargento-Mor da Ribeira era um representante do Poder Executivo, militar e, acima de tudo, moral. Era a "autoridade executiva, policial, preventiva e repressora, decidida, valente, desinteressada e prestigiada pela propriedade, família e tradição local", nas palavras do historiador Câmara Cascudo. Cabia ao Sargento-Mor da Ribeira acalmar as partes, em caso de desavença, ouvindo-as e aconselhando-as, vigiar a costa, verificando a procedência das embarcações, chegada de estrangeiros e suspeitos, informando de tudo ao Capitão-Mor.

O primeiro Sargento-Mor da Ribeira de Mossoró foi José de Oliveira Leite, nomeado pelo Capitão-Mor da Capitania do Rio Grande, Pedro de Albuquerque Melo, no dia 4 de outubro de 1755. Para a escolha, o Capitão-Mor solicitou do Senado da Câmara três nomes. E olhando a lista tríplice, fez a sua escolha. O Capitão-Mor justificava a necessidade de ter um Sargento-Mor na Ribeira do Mossoró porque já morava na região mais de cinqüenta pessoas, sem uma autoridade presente para acalmar os ânimos dos exaltados, que por estarem bastante isolados das comunidades mais desenvolvidas que eram as de Apodi e Assu, se achavam absolutos.

José de Oliveira Leite era proprietário de terras onde possuía currais de gado, tendo relações e poder pessoal. Era filho de Tomé Leite, antigo vereador do Senado da Câmara do Natal, e de Maria da Conceição. Era casado com dona Maria d'Apresentação, filha de Antônio Vaz de Oliveira e de Bernadina Josefa de Morais, todos naturais da região.

Na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, volume IV, n.º I, de janeiro de 1906, nas páginas 85/87, foi publicado o registro da Carta-Patente de José de Oliveira Leite. Destacamos um trecho deste documento:

"Pedro de Albuquerque Melo, Capitão-Mor da Capitania do Rio Grande do Norte por Sua Majestade, que Deus guarde, etc. Faço saber aos que esta minha Carta-Patente virem que porquanto na Ribeira de Mossoró, desta minha jurisdição, se acham morando mais de cincoenta moradores, sem ter quem os governe, por não haver aí cabo nenhum que o faça, e se achem meio absolutos, por ser longe dos coronéis que há nas Ribeiras do Assu e Apodi, e ser conveniente ao serviço de Sua Majestade prover naquele lugar um cabo que os domine e castigue, quando fizerem absurdo, por viverem absolutos, e atender a que poderá haver entre eles alguma desordem contra o serviço de Sua Majestade, que Deus guarde, pedi por carta aos oficiais da Câmara desta Cidade mencionem três homens de satisfação e inteligência da disciplina militar, o que satisfizeram, nomeando em primeiro lugar a José de Oliveira Leite, por ser pessoa principal e de conhecida nobreza, afazendado morador na mesma Ribeira e de honrado procedimento, o que tudo me consta: Hei por bem de o eleger e nomear, como pela presente o faço, por Sargento-Mor daquela Ribeira, para governar e traze-la e ter em conhecimento de superior, que a governe e domine, em virtude da Real Ordem de Sua Majestade de 22 de dezembro de 1715: com o qual posto não haverá soldo algum da Real Fazenda, mas gozará de todas as honras, graças, privilégios, isenções e liberdades que em razão do dito posto lhe tocarem. Pelo que ordeno a todos os cabos das mais Ribeiras que o conheçam por Sargento-Mor regente daquela Ribeira e como tal o honrem e estimem; e da mesma sorte ordeno aos moradores dela o conheçam por seu Sargento-Mor regente e como tal o obedeçam, cumpram e guardem suas ordens de palavra e por escrito como devem e são obrigados, ..."

Com este documento estava constituída a primeira autoridade da Ribeira de Mossoró. A cidade não guardou seu nome, como também não guardou o nome de um outro Sargento-Mor, Antônio de Souza Machado, um português de Braga, grande proprietário rural, dono da Fazenda Santa Luzia, Fazenda essa que deu origem ao Arraial e depois Cidade de Santa Luzia de Mossoró.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

INÍCIO DE MOSSORÓ

Nos primórdios da colonização, as cidades surgiam naturalmente, sem pretensões, sem pressa. Em busca de bons pastos, já que os terrenos à beira-mar estavam reservados para o plantio de cana-de-açúcar (um decreto real de 1701 conservava as dez primeiras léguas - aproximadamente 65 Km - como área exclusivamente de agricultura), os homens adentravam os sertões, tangendo o gado, fixando-se em fazendas. Com o tempo, as fazendas cresciam. Então logo se doava um pedaço de terra para a construção de uma igreja. Terra doada à padroeira. Com o tempo, começava a surgir casas ao redor da igreja. Surgiam os povoados, as vilas, as cidades. A fazenda de gado foi responsável pela fixação da população no interior nordestino. O relevo e a vegetação pouco densa das caatingas permitiam a fixação do gado sem qualquer trabalho preliminar de desbastamento do solo. Os afloramentos salinos, comuns no interior nordestino, serviam de lambedouros para o gado, fundamentais para a sua alimentação. As fazendas geralmente eram construídas às margens de um rio. Não necessitava de muita gente para o trabalho. Um só homem era suficiente para cuidar de aproximadamente 250 cabeças de gado.

Com Mossoró o mesmo aconteceu. A princípio era a Fazenda Santa Luzia, que pertencia, antes de 1739, ao capitão Teodorico da Rocha. Por volta de 1770, a posse da fazenda estava com o português Antônio de Souza Machado, e foi por essa época que a fixação demográfica foi iniciada pela criação de gado, oficina de carnes e extração do sal. Manuel Ferreira Nobre, ajudante de ordens do presidente da Província Leão Veloso, conta em seu "Breve Notícia sobre a Província do Rio Grande do Norte, que segundo a tradição, a primeira exploração de Mossoró teria se dado no correr do ano de 1633. Em nota de rodapé do mesmo livro, o professor Manuel Rodrigues de Melo explica que a informação de Manuel Ferreira, embora baseada na tradição merece atenção, visto que em 1612 o povoamento chegou até o rio Açu, e o sertão do Açu era o caminho natural para o Jaguaribe, que obrigatoriamente passava por Mossoró. O que se sabe ao certo é que em 13 de fevereiro de 1852" foi lida na Assembléia provincial uma representação dos habitantes da freguesia de Santa Luzia do Mossoró, pedindo que se elevasse a povoação à categoria de vila e município". A lei n° 246 de 15 de março de 1852 , elevou o povoado à categoria de vila, com o título de Vila de Santa Luzia de Mossoró. Em 9 de novembro de 1870, graças a um projeto do Vigário Antônio Joaquim Rodrigues, então deputado provincial, a Lei n° 620 do mesmo ano conferiu-lhe as honras de cidade, com a denominação de cidade de Mossoró, que permanece até os dias atuais.

Mas por que Mossoró?

Para o historiador potiguar Luís da Câmara Cascudo, o topônimo provém dos cariris Monxorós ou Mossorós. Para Antônio Soares, Mossoró é corruptela de mô-çoroc, vocábulo indígena que significa fazer roturas, o que rasga, rompe ou abre fendas. "Aplica-se bem ao rio Mossoró, que rasgou ou rompeu a terra marginal em diversos pontos, formando camboas". No mesmo trabalho, Antônio Soares cita Miliet de Saint Adolfhe para quem o nome teria vindo de uns índios aldeados nas proximidades da foz do Apodi, que seriam os Macarus (ou Maçarus). Cita ainda Saldanhas Marinho, para quem "Mossoró" era corruptela de mororó, árvore muito flexível, resistente e vulgar no norte. Em outras fontes encontramos também Mossoró como sendo certo vento que sopra do norte. Quem tem razão não sabemos. O que sabemos é que Mossoró ficou sendo desde 9 de novembro de 1870.

Os primeiros automóveis de Mossoró

E, de repente, chega o automóvel e transforma a cidade. O monstro irrompeu bufando, "soltando fumaça pelas ventas feito a besta-fera". Era a modernidade que chegava ao interior do Estado. E veio pra ficar!

Antes, existia apenas os velhos carros-de-boi e a Diligência de Seu Pompílio, que era um carro grande, pesado, de quatro rodas, puxado por dois burros. Essa diligência era empregada no transporte de passageiros entre o Porto de Santo Antônio e a cidade de Mossoró, e vice-versa. A viatura tinha vários lugares e pegava diversos passageiros. O preço de uma lotação completa era de dez mil réis; passagens avulsas custavam um mil réis.

E tudo ia bem até que em 11 de maio de 1911 apareceu o primeiro automóvel em Mossoró, adquirido pela firma Tertuliano Fernandes & Cia. Era um veículo de marca "Westinghause", de fabricação alemã, com capota desmontável, buzina externa e caixa de ferramentas no estribo esquerdo, além de manivela e rodas com aros de madeira. No motor, 40 cavalos; tinha acomodação para 8 passageiros.

O jornal "O Mossoroense" noticiava, na época: " O carro dos Fernandes fez lindas evoluções pelas ruas da cidade".

Lauro da Escóssia registrou no seu livro "Cronologias Mossoroenses – quando, como e onde aconteceram os fatos... – Coleção Mossoroense – Vol. CLXXXII – que "o povo acolheu a chegada do esquisito invento portando-se de joelhos nas calçadas da praça da Redenção e rua Almeida Castro, por onde passou o veículo, mesmo empurrado, pois vinha com uma peça quebrada".

Nesse mesmo período, a municipalidade inicia a construção de estradas para automóveis, concedendo ajuda financeira à firma Tertuliano Fernandes & Cia., que pretendia usar o automóvel adquirido para transporte de passageiros em linhas a serem organizadas entre Mossoró e as de Areia Branca, Apodi e Pau dos Ferros.

Junto com o automóvel, veio o motorista do Rio de Janeiro. Era o Sr. Cesário Martins, que durante o período de sua permanência em Mossoró ministrou ensinamentos a várias pessoas. Quem primeiro aprendeu a dirigir a máquina foi Chico Panema. Mas não era um bom motorista. Numa viagem que fez para o Apodi, esqueceu-se de colocar água na caldeira e o motor do carro estourou. Ficou atolado no areal entre Apodi e Mossoró. Não teve mais conserto e alguns anos depois foi vendido e levado para o Rio de Janeiro como sucata.

Veio depois o automóvel do comerciante Delfino Freire da Silva. Era um "Berlier" azul, de sete lugares, imenso. Fez uma verdadeira revolução em Mossoró. Para dirigi-lo, veio um chofer do sul, chamado Fraga. Gostou da cidade e tornou-se mossoroense.

Outro automóvel que fascinou os mossoroenses da época foi o Itala azul-cinzento, de sete lugares, de origem italiana, pertencente ao capitão zeta, Manoel Tavares Cavalcanti.

Novos carros foram aparecendo em Mossoró. Alguns de marca Ford, o chamado "fura-mundo", o mais popular da época. E a frota não parou mais de crescer.

Outros tempos aqueles. O automóvel não criou apenas uma profissão nova: a de "chauffer". Criou, também, uma época inteiramente sua: a era do automóvel!