sábado, 5 de dezembro de 2009

Mossoró à época que adotou Santa Luzia como padroeira

FONTE - COLUNA GERALDO MAIA, PÚBLICADA NO JORNAL O MOSSOROENSE (17/10/1872), EDIÇÃO DO DIA 6 DE DEZEMBRO DE 2009(DOMINGO)

gemaia@bol.com.br

Quem primeiro chamou o lugar de Santa Luzia, não se sabe. Não há registro histórico. O que se sabe é que antes de 1739 já era habitado este lugar onde se encontra a cidade de Mossoró e já era conhecido naquele tempo pelo nome de Santa Luzia. Encontramos provas disso num documento de concessão de terras ao capitão João do Vale Bezerra, datado de 25 de abril de 1739, no qual o mesmo cita, quando descreve o local desejado, que fica próximo a um córrego grande, que no tempo do inverno vem desaguar em um rio chamado Mossoró, a que chamam de "Saco Grande", junto de "Santa Luzia". O lugar "Santa Luzia" , citada no documento oficial, provavelmente era uma fazenda de gado próspera ou em formação.

Em 1754, José de Oliveira Leite e João Marques Moreira, moradores na ribeira de Mossoró, requereram e lhe fora concedida uma sesmaria de terra, na ribeira de mesmo nome, no Riacho do Canto do Junco, dizendo o primeiro dos requerentes, José de Oliveira Leite, que já era proprietário do sítio "Santa Luzia", onde tinha currais de gado situado.

Estas terras do sítio "Santa Luzia" teriam tido como primeiro proprietário o capitão Teodorico da Rocha, antes de 1939. Foi provavelmente este último que deu nome ao lugar.

Em 1770 era proprietário do sítio Santa Luzia o Sargento Mor Antônio de Souza Machado. Não se sabe ao certo, em que ano Souza Machado adquiriu a propriedade. Mas a devoção a Santa Luzia começou realmente em 1772, com a construção de uma capela em homenagem à Virgem de Siracusa, para fazer cumprir uma promessa de sua esposa, D. Rosa Fernandes. A capela ficou pronta mas não tinha imagem. Em 1779 D. Rosa Fernandes traz de Portugal uma imagem de Santa Luzia, em madeira, adquirida pelo valor de 25$600. Essa imagem é a mesma que até hoje é conduzida nas procissões e peregrinações.

Com a construção da capela de Santa Luzia em 1772, dar-se a fixação do arraial, pois naquele ponto, além das casas residenciais da família do proprietário, erguiam-se dezenas de outras casas, todas de taipa e palha, sendo algumas cobertas com telhas de barro e outras com palha de carnaúba, na dispersão dos pequenos sítios perto das cacimbas cavadas periodicamente. A lagoa de água potável que existia no arraial, que ficava próximo aonde hoje se encontra a Igreja do Bom Jesus, no centro da cidade, fora aterrada durante a grande seca de 1877-78.

Descrevendo a região, diz o mestre Cascudo: " Os pereiros de verde intenso e obstinado alegravam a visão do povoado que uma mata de cedros sombreava. Esta mata de cedros constituiu pouso das primeiras feiras incipientes e "rancho" natural para os viajantes frequentes e ocasionais. Viviam em 1870, robustos e ornamentais à margem esquerda do Mossoró, ponto de venda de algodão, delícia dos tabuleiros de doces, sombra macia a violência da reverberação solar, abrigando a conversa miúda dos miúdos acontecimentos locais".

Na praça da capela, hoje Praça Vigário Antônio Joaquim, erguia sua copa redonda e frondosa o velho umarizeiro, árvore secular, em cuja sombra se abrigavam os cargueiros de sal e os tangerinos de cereais para permutarem os seus produtos.

Ao entardecer, o sino da capelinha de Santa Luzia batia lentamente as três badaladas das trindades. Como toda população eram católicos, fazia-se o sinal da Cruz.

As noites eram tranquilas no arraial. Ouvia-se, ao longe, as vozes dos animais e o sussurro das palmas dos carnaubais.

O desenvolvimento populacional do arraial, nessa fase inicial, foi muito lenta. Francisco Fausto de Souza informa que "de 1772, quando foi construída a Capela, até 1842, quando foi a Ribeira de Mossoró elevada a Freguesia, a Povoação de Santa Luzia pouco aumentara consistindo ela até então de um pequeno quadro em frente a respectiva "Capela". Em dezembro de 1810, o viajante Henry Koster, indo para o Ceará, atravessa o arraial de Santa Luzia. Esse viajante, "que era inglês nascido em Portugal, realizou uma jornada fabulosa, de Recife a Fortaleza, ida e volta, a cavalo, varando o interior, olhando tudo e tudo registrando com clareza e verdade", como registrou o mestre Cascudo. O trabalho de Koster é considerado o primeiro e melhor depoimento sociológico e etnográfico da região. Nele, Koster descreve o arraial de Santa Luzia dizendo constar de duzentos ou trezentos habitantes e ser edificado em quadrângulo, tendo uma igreja e casas pequenas e baixas, onde o mesmo pode encher suas garrafas de bebidas e conseguir suprir-se de rapaduras.

Em 13 de fevereiro de 1852 foi lida na Assembleia Provincial uma representação dos habitantes da freguesia de Santa Luzia de Mossoró, pedindo que se elevasse a povoação à categoria de vila e município. A Lei nº 246 de 15 de março de 1852, elevou o povoado à categoria de vila, com o título de Vila de Santa Luzia de Mossoró. Em 9 de novembro de 1870, graças a um projeto do vigário Antônio Joaquim Rodrigues, então Deputado Provincial, a Lei nº 620 do mesmo ano conferiu-lhe as honras de cidade, com a denominação de Cidade de Mossoró. Assim nasceu a cidade, tendo como sua padroeira Santa Luzia, a santa das eternas claridades visuais.

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