terça-feira, 12 de maio de 2009

O acendedor de lampiões


A idéia foi do intendente Aderaldo Zózimo de Freitas, mas toda a assembléia aprovou: as ruas de Mossoró precisavam ser iluminadas. E em 1896 foram instalados postes nas esquinas da cidade e nos pontos mais centrais, pelas ruas e pelas praças, onde ficavam pendurados os lampiões de querosene. Era o progresso que chegava ao interior, dando mais segurança e ares de modernidade.
Na realidade, o projeto de iluminação tinha sido apresentado no ano anterior, quando o município era administrado pelo comerciante Romualdo Lopes Galvão, que havia tomado posse a 5 de outubro de 1892. Romualdo Galvão já havia administrado o município no período de 1883 a 86, sendo que no primeiro ano do seu primeiro período administrativo, 1883, ocorreu em Mossoró o movimento pela libertação antecipada dos escravos, movimento esse que é lembrado e comemorado até os dias atuais. E Romualdo Galvão foi uma das figuras de maior destaque na campanha que teve seu início em 6 de janeiro daquele ano com a fundação da Sociedade Libertadora Mossoroense e culminou em 30 de setembro do mesmo ano, quando foi declarado oficialmente que Mossoró estava livre da mancha negra da escravidão.
Aderaldo Zózimo de Freitas, o autor do projeto, também era comerciante e tinha seu nome ligado ao movimento abolicionista. Tinha, portanto, alguns pontos em comum com o Presidente da Intendência e o respeito da Edilidade, cargos esses que correspondem hoje ao de prefeito e de vereadores.
O ano de 1895 estava sendo um ano de bom inverno, o que na linguagem do sertanejo era uma grande riqueza. O município contava com um rebanho de 15.000 cabeças de gado vacum, 2.000 cavalar, 1.000 muares, 10.000 caprinos, 8.000 lanígeros e 1.000 suínos.
A cidade vivia um período de desenvolvimento, onde já existiam 5 escolas criadas e mantidas pela Edilidade. Existia também, em 1895, uma preocupação muito grande com a saúde pública, tanto assim que nesse ano começou a funcionar o serviço de remoção do lixo e limpeza das ruas e praças da cidade.
Para isso, contratou-se com Antônio Pompílio de Albuquerque o referido serviço, pela quantia de 2.400$ por ano. A limpeza seria feita quatro vezes por ano, em março, junho, setembro e dezembro, a começar do córrego do Canecão à baixa do Caetaninho, inclusive o caminho do Cemitério. Não só varrimento e remoção do lixo das ruas, praças, becos e travessas, como também a limpeza dos matos, nivelamento dos buracos, deixando apenas capim e relva. Duas vezes por semana as carroças percorriam determinadas ruas, fazendo-se anunciar pelas campainhas, recolhendo o lixo e cisco das casas e edifícios da cidade acomodados em vasilhas próprias. Mas as ruas da cidade eram iluminadas apenas pela lua.
Sendo aprovado por unanimidade o projeto de iluminação pública da cidade, que contava com uma verba de 600$ no orçamento público, foi providenciada a compra dos lampiões (sessenta e três lampiões), dos postes de madeira etc. Na sessão de 14 de fevereiro de 1896 foi criado o cargo Zelador da Iluminação. Ao Zelador da Iluminação, ou Acendedor de lampiões, como ficou conhecido esse funcionário, cabia abastecer de querosene os lampiões, acender e apagar, enfim, manter os mesmos funcionando.
E assim, quando vinha chegando a hora do escurecer, aparecia o Acendedor de lampiões com uma escada nas costas e uma caixa de fósforo nas mãos. De poste em poste escorava sua escada, subia por ela, tirava a manga de vidro do lampião e acendia o pavio.
Ao amanhecer do outro dia, voltava o Acendedor de lampiões com sua escada, fazendo o mesmo giro, de poste em poste, para abastecer e limpar os vidros das mangas dos lampiões com um pano úmido. E a rotina se repetia dia após dia, menos nas noites claras, pois nestas noites, era a lua que cobria de luz as ruas e praças da cidade.
FONTE: COLUNA DE GERALDO MAIA, NO JORNAL O MOSSOROENSE

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