terça-feira, 12 de maio de 2009

Um certo Sargento-mor da Ribeira de Mossoró

Um certo Sargento-mor da Ribeira de Mossoró
Se atribui ao Sargento-mor Antônio de Souza Machado, português de Braga, antigo morador de Russas e da Barra de Mossoró, a quem competia maior porção de terras da Ribeira do Apodi, ser o titular e verdadeiro colonizador da região. Era proprietário da Fazenda Santa Luzia, que compreendia a Serra Mossoró, Pau do Tapuio e Sítio Bonsucesso. Essa fazenda, segundo informações do historiador Francisco Fausto de Souza, "estendia-se pela margem esquerda do Rio Mossoró e ao mesmo tempo da Mata, tendo entre esta e o Rio uma lagoa de água potável". Essa lagoa enchia-se com as precipitações pluviais ou quando o rio transbordava, saindo do seu leito. Era, provavelmente, a Lagoa de Ipoeira, que ficava em terrenos próximos à atual Igreja do Coração de Jesus, e que fora aterrada em 1878.
Souza Machado invernava todos os anos na Santa Luzia e dela rebanhava o gado de corte, mandando as reses para a "Ilha das Oficinas" para serem abatidas e feita a carne seca para exportação rumo as Capitanias do Sul, especialmente Pernambuco. O local era Porto Franco, onde depois veio a ser a Estação da Estrada de Ferro de Mossoró.
Por volta de 1750, Souza Machado mudou-se com a família para as terras da Santa Luzia. E o povoamento começa, pois "além das casas residenciais da família do proprietário, erguiam-se dezenas de outras, igualmente de taipa e palha, raras com telhas côncavas, na dispersão dos pequeninos sítios perto das cacimbas cavadas periodicamente", como nos ensina Câmara Cascudo.
Era um tipo interessante, esse Capitão-mor: "encarnava o espírito de senhor latifundiário poderoso numa época de declínio, ainda assim, imperioso e forte", usando as palavras de Raimundo Nonato. "Mantinha firme aquelas mesmas qualidades de quem sabia dirigir com energia. Daí, por certo, a prosperidade das suas fazendas, onde suas ordens criavam uma verdadeira ordem de disciplina e trabalho. Sua influência estava em toda parte, e nas suas terras sua sombra era sempre vigilante".
Por volta de 1772, Souza Machado, abastado e trabalhador incansável, interessando-se pelo povoamento da Ribeira de Mossoró, resolvera, às suas expensas, construir uma Capela em sua fazenda "Santa Luzia", com a invocação do nome da Virgem de Siracusa – "a quem se diz que tem nos olhos a claridade luminosa do primeiro Dia da Criação". Raimundo Nonato no seu livro "História Social da Abolição em Mossoró (Coleção Mossoroense – Vol. CCLXXXV - 1983)" diz: "A exemplo de outras capelas feitas no sertão, corria em Mossoró a lenda de que a de Santa Luzia foi feita em pagamento de uma promessa da mulher de Souza Machado, Rosa Fernandes". Não sabemos se houve ou não a promessa; sabemos sim que Antônio de Souza Machado e sua mulher Rosa Fernandes, solicitaram a Provisão das Dignidades do Cabido de Olinda/PE, autorização para construção de uma capela em suas terras, permissão essa concedida a 5 de agosto de 1772, sendo o primeiro ato litúrgico celebrado em 25 de janeiro de 1773, quando foi batizada uma criança do sexo feminino, em cerimônia cujo oficiante foi o padre José dos Santos da Costa. Essa Capela foi construída de pedra e cal, no citado ano de 1772, pelo referido Sargento-mor, que com ela despendeu a quantia de 590$770rs. Em derredor do modesto templo foram sendo construídos rústicos casebres que, mais tarde, formariam a quadra da rua.
A construção da Capela de Santa Luzia é considerada o marco inicial para o surgimento da cidade de Mossoró. E da Capela, o Sargento-mor Antônio de Souza Machado foi procurador, administrador e tesoureiro até a sua morte em 1798.
Na entrada da atual Matriz de Santa Luzia, que fora edificada no mesmo local da antiga Capela, existe uma placa que diz: "À memória do Sargento-mor Antônio de Souza Machado a homenagem dos professores e formados da Universidade Regional do Rio Grande do Norte, no bicentenário da fundação de Mossoró. V-VIII-MCMLXXII".
FONTE - COLUNA DE GERALDO MAIA, NO JORNAL O MOSSOROENSE

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