terça-feira, 12 de maio de 2009

Um homem e seu destino

Um homem e seu destino

Antônio Alves Brasil era cirurgião dentista, poeta e jornalista. Chegou a Mossoró por volta de 1920 e aqui instalou o seu consultório. Era um jovem alegre, sotaque, hábitos e bossa de carioca, como se dizia na época, se bem que nascido no Ceará, mas criado no Rio de Janeiro. Homem de múltiplas funções, ambientou-se fácil em Mossoró, onde instalou um curso de línguas e conhecimentos gerais, ensinando, nas horas vagas de atendimento do consultório, gramática, francês, inglês, história, geografia, física e química. Com seus conhecimentos, tinha tudo para se tornar um homem bem-sucedido profissionalmente, já que o seu curso era bastante procurado e mais ainda o seu consultório de dentista.
De inteligência prodigiosa, passou a colaborar com o jornal O Mossoroense, onde publicou uma série de narrativas contando toda a história do romântico cangaceiro Jesuíno Brilhante, de quem era parente e de quem havia herdado suas memórias anotadas e deixadas em poder de seu pai Antônio Alves, que havia sido amigo do cangaceiro. O trabalho tinha o pomposo título de "A vida e as Aventuras de Jesuíno Brilhante". Mas não chegou a concluir a narrativa.
Era poeta. E como tal, usava o pseudônimo de João Procópio, tendo sua produção poética publicada nas páginas de O Mossoroense. Alguns trabalhos assinava também como Cibizil.
Ganhou destaque na história da invasão de Mossoró por Lampião em 13 de junho de 1926, por ter sido ele a dar o alarme da chegada dos cangaceiros. Estava ele na torre da Matriz munido de binóculo e conseguiu avistar o bando no patamar da capela do Alto da Conceição.
Antônio Brasil tinha, porém, um grande defeito: a inconstância. Por qualquer motivo, suspendia as aulas. O mesmo fazia com o consultório, onde era comum desmarcar as consultas sem nada alegar. E foi caindo em descrédito. Aliado a isso, era também de espírito anarquista, chegando a criar problemas de ordem social. Em uma festa carnavalesca no Cine Almeida Castro, chegou a tumultuar o ambiente por provocar choque com a polícia. Acontece que o mesmo havia comparecido ao baile com uma fantasia que feria a moral da época, e o capitão Abdon Trigueiro, que era o Delegado de Polícia, o retirou do salão, provocando o tumulto.
De outra feita, proferiu um discurso na sede da Arcádia Lítero Cívica de Mossoró, entidade cultural da qual era sócio, que provocou o fechamento da mesma. O discurso proferido era altamente afrontoso à moral.
Dessa forma, o jovem e talentoso Antônio Brasil foi se perdendo no cipoal de problemas provocados pelo seu "Modus vivendi". Já não era mais possível permanecer em Mossoró. E foi assim que um dia deixou a cidade em busca de novos ares. Andou por várias cidades do Estado sem se fixar em nenhuma. Resolveu então voltar ao Rio de Janeiro, mas sem o mesmo entusiasmo que lhe era característico. Não tinha mais ânimo para exercer a profissão de cirurgião dentista nem também de professor. Procurou outra profissão, mas nada lhe servia. Acabou aceitando trabalhar como carvoeiro de um dos depósitos do Loide Brasileiro, ocupação que em nada tinha a ver com os seus conhecimentos.
Essa foi a última notícia que se teve de Antônio Brasil. Um homem culto, de conhecimentos variados, mas de comportamento inaceitável para a época, principalmente numa sociedade laboriosa e tranqüila como era a de Mossoró. E de todos os seus feitos, o único que ficou marcado em nossa história foi o de ter sido ele a dar o alarme da chegada dos cangaceiros naquela tarde de 13 de junho de 1927, alertando os defensores para a batalha na qual o povo de Mossoró pode mostrar sua fibra quando heroicamente repeliu a horda de cangaceiros que atacava a cidade.
FONTE - COLUNA DE GERALDO MAIA, NO JORNAL O MOSSOROENSE (17/10/1872), EDIÇÃO DO DIA 8 DE FEVEREIRO DE DE 2002-SEXTA-FEIRA

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